A Indústria do FODA
É como disse Ariano Suassuna: “Eu sou um escritor brasileiro.
A língua portuguesa é o meu material de trabalho. Se eu gasto um adjetivo como ‘genial’
com o Chimbinha, o que é que eu vou dizer de Bethoven?”
Quando dizemos sobre religião que “Fé demais, cheira mal.” o
mesmo pode ser dito sobre essa situação. Não podemos ficar cegos com admiração,
eufóricos com tudo. Precisamos enxergar o bom, mas também o que pode ser
melhor.
Cada vez mais somos apresentados a conteúdos, tais como
filmes, músicas, livros, por quê até não canais de YouTube? Entre outros
diversos tipos de materiais que constantemente temos o costume de classificar
como FODA. F-O-D-A! Tipo, muito foda! Mais que TOP, foda.
Antigamente parecia não haver problema você assistir um
filme que você gostou muito e ao final você dizer: “Esse filme foi muito foda!”.
Ou mesmo o seu cantor favorito lançar um single ou um álbum e você dizer o
mesmo sobre isso. Ou qualquer outra pessoa através de qualquer outro meio, fazer
algo ao qual você cria uma certa admiração e dali em diante passa a apreciar
mais e mais os produtos apresentados.
Com o perdão da palavra, não quero aqui banalizar nada ou
fazer um texto que incentiva qualquer grosseria, mas “Foda”, é apenas uma
palavra. E uma palavra carregada de inúmeros sentidos dentro da língua popular
brasileira.
O problema é que cada vez mais estamos atribuindo adjetivos
como “foda”, “genial”, etc. para coisas que nem de longe passam por algo tão
grandioso.
Ora, a admiração que alimentamos pode ser conservada, porém
é necessário saber criticar ou comentar um trabalho.
Recentemente estamos vivenciando uma época onde tudo é muito
imediato, eufórico. As informações são consumidas de forma muito rápida e isso
muitas vezes não nos dá tempo de realmente digerir a informação, ou seja,
pensarmos para emitir uma opinião.
Falando em matéria da indústria do entretenimento, temos
filmes como Batman Versus Superman, X-Men, Heróis da Marvel ou DC e incontáveis
outros, que estão cada vez mais perdendo o senso do que faz uma boa história.
Isso é pelo fato das pessoas acharem tudo FODA. Parece que
por regra o produto do entretenimento precisa ser algo leve, de preferência
superficial. Uma história não precisa ter um grande sentido ou até mesmo uma
boa trama, desde que os efeitos brilhem aos olhos. Em alguns casos não precisa
nem de uma boa interpretação, ou uma trilha sonora adequada, enfim...
Afinal de contas estamos idolatrando artistas que mais e mais
nos entregam coisas que muitas vezes não são boas, mas pela admiração cega,
temos dificuldade em achar o erro. Eu acho que algumas pessoas até sentem que
traem seu artista favorito se sequer pensarem mal dele.
Eu continuo acreditando e defendo o direito de se soltar um “Foda!”
para algo que você realmente gostou, mas não, você dizer que o algo É foda, ao
invés de dizer que ACHOU foda, não faz disso realmente algo foda. Não mais do
que ir à garagem faz de você um carro, por exemplo.
Precisamos reconquistar a inocência do FODA. Frequentemente
ando me policiando para não chamar algo de foda, pois parece que foi criado um
encantamento a cerca da palavra, onde, se você categoriza qualquer coisa como
foda, PUFF, como num passe de mágica, aquilo passa a ser algo muito bom.
Saber apresentar uma crítica não é necessariamente dizer que
você não gostou de alguma coisa. É simplesmente dizer que você tem uma opinião.
É dizer que mesmo você tendo gostado de um trabalho você ainda vê pontos a
serem melhorados. É, até mesmo como um consumidor, dizer que você espera algo
melhor. Criticar não é uma simples reclamação, é uma reflexão. E vale
ressaltar, uma crítica não precisa ser grosseira.
Precisamos mostrar que não toleramos essa criação da
Indústria do FODA, que produz qualquer tipo de conteúdo, fazem um bom
marketing, uma publicidade relativamente criativa, mas o conteúdo apresentado
de foda não tem nada. É mediano.
Tenha uma opinião, mesmo que não seja FODA, mas por favor,
não engula qualquer coisa que te apresentam!
Se tudo é FODA, nada realmente é.
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