Contos Infantis Modernos: Zinho, o zumbizinho

Era uma vez num mundo pós-apocalíptico uma feliz comunidade de zumbis. Uma das muitas comunidades que se formaram após uma grande explosão atômica em várias regiões do país.

Nessa comunidade em específico, viviam os Mortinho da Silva, infelizmente o papai Mortinho da Silva não voltara de uma das suas últimas expedições em busca de comida, deixando assim apenas o filho e a mamãe Mortinho da Silva.

Todos os dias a mamãe Mortinho da Silva saia de casa para buscar comida para o seu filhinho. Dia após dia era sempre a mesma coisa: “Zinho, a mamãe está saindo para buscar comida. Se comporte, fique dentro de casa. Não converse com estranhos, a mamãe já volta.”

Antes de sair a mamãe Mortinho da Silva sempre fazia algo que fazia com que Zinho morresse, não literalmente, de rir. Ao invés de se abaixar para dar um beijo na testa do filho, ela tirava sua cabeça e levava à testa do filho para que pudesse dar um beijinho de despedida.

Mamãe então saiu e Zinho ficou em casa aguardando que sua mamãe voltasse. Não tinha muito o que fazer e Zinho ficava entediado fácil. Eles tinham um cachorrinho chamado Putty, nome que veio da palavra putrefação. Zinho costumava tirar seu bracinho magrelo e atirá-lo bem longe para que Putty pudesse pegá-lo e trazê-lo de volta. Mamãe Mortinho da Silva disse a Zinho que não gostava muito dessa brincadeira, pois o braço de Zinho não era brinquedo, mas era só o que Zinho podia fazer.

Naquele dia Zinho sentiu uma inquietação, olhou pela janela e viu outros zumbizinhos de sua idade brincando alegremente de futebol com a cabeça de um deles. Zinho olhava desconsolado pela janela, quando de repente uma sombra cobriu sua visão, se tratava do corpo do coleguinha que vinha correndo atrás de sua cabeça que servia como bola. Zinho tomou um susto, mas depois caiu na risada.

Sentiu uma enorme vontade de sair e brincar com os outros, mas se lembrava do que a sua mamãe sempre falava. Mas ele estava se sentindo tão sozinho. Ele decidiu então que sairia rapidinho e brincaria só um pouquinho. Ele estaria de volta antes que mamãe pudesse perceber.

Então abriu a porta, Putty que estava deitado num canto levantou suas orelhas e veio correndo em direção a Zinho. Infelizmente no balançar um dos olhos de Putty caiu e o pobrezinho bateu com força na parede ao lado da porta. Zinho riu daquilo e fechou a porta atrás de si. Estava fora de casa.

Resolveu ir tentar se enturmar com o resto do pessoal, mas não conseguia encontrar seus amigos. Ele então ficou parado perto da cerca da comunidade brincando com alguns ossos que estavam ali. Quando ouviu:

- Oi.

Era uma voz infantil também, Zinho então virou e se deparou com um garoto mais ou menos da mesma idade. Mas aquele garoto era diferente, ele não era pálido, parecia ter todos os membros no lugar e além do mais parecia tomado banho. Zinho então percebeu que aquele era um humano.

Mamãe Mortinho da Silva já havia conversado com Zinho sobre os humanos e contara histórias terríveis, mas aquele humano não se parecia nada com o que mamãe falara.

Zinho então largou os ossos e foi até a cerca que separava os dois.

- Oi! Meu nome é Zinho e o seu?

- Eu me chamo Lucas. O que você tá fazendo? – Lucas olhou com cuidado e mediu Zinho de cima a baixo. Olhou além de Zinho e viu alguns ossos.

- Eu tô brincando com uns ossos que eu achei aqui. Você quer brincar também? – convidou Zinho, dando uma rápida olhada para trás como quem ainda queria conferir se os ossos ainda estavam lá.

- Eu quero sim! – disse Lucas animado.

Mas eles tinham um problema, como fariam com a barreira que os separava? Decidiram então brincar entre a cerca mesmo. Zinho passou alguns ossos para Lucas, juntos eles construíram fortes, fizeram bonequinhos e aviões com os ossinhos. Lucas tentou ensinar a brincadeira do Morto-Vivo a Zinho, mas ele não entendeu muito bem como brincar. Zinho por sua vez arrancou um de seus braços e passou pela cerca para tentar fazer cócegas em Lucas, que primeiro chorou, mas depois acabou caindo na risada junto com Zinho.

Aqueles dois começavam uma ótima amizade. Porém estava ficando um pouco tarde e Zinho precisaria voltar para casa, pois se mamãe Mortinho da Silva chegasse em casa e não visse Zinho, ela perderia a cabeça. Claro que mamãe sempre dissera isso no sentido figurado, mas Zinho não sabia disso que ficava realmente com medo de que mamãe perdesse sua cabeça.

Então combinou com Lucas que os dois se encontrassem na mesma hora no dia seguinte para brincar. Zinho voltou para sua casa e não muito tempo depois chegou a mamãe trazendo comida, hoje a colheita tinha sido farta e daria para fazer um ótimo caldo de medula com pedacinhos de cerebelo e mesencéfalo na manteiga. A colheita tinha sido tão farta que daria até para fazer a sobremesa favorita de Zinho: gelatina de tálamo.

No dia seguinte mamãe saiu novamente para resolver algumas questões e pediu a Zinho novamente que se comportasse e não conversasse com estranhos. Zinho se despediu de mamãe, esperou um pouquinho e foi se encontrar com seu novo amiguinho, Lucas.

Os dias se seguiram assim, dia após dia mamãe Mortinho da Silva saia de casa e Zinho corria para se encontrar com Lucas na cerca. Zinho nunca contara a mamãe sobre seu amiguinho, pois ela sabia que jamais aprovaria. Muito embora Zinho não visse nada demais em sair para brincar.

Num desses dias Lucas não estava no horário combinado por eles. Zinho pensou que seria abandonado por seu amiguinho. Ficou sentado próximo a cerca, começava a achar que era melhor voltar para casa. Estava quase indo embora quando ouviu:

- Ei, Zinho! Foi mal a demora, cara. – Lucas vinha correndo pelo matagal do outro lado da cerca.

- Nossa, você demorou tanto que eu achei que você não ia vir pra gente brincar hoje.
- Foi mal Zinho, mas é que eu precisava pegar uma coisa com o meu pai. – Lucas então levou sua mão ao bolso e tirou um alicate.

- O que é isso ai? – perguntou Zinho um pouco desconfiado.

- É um alicate. Ele serve para cortar coisas. Olha. – Lucas então encaixou o alicate num fio da cerca, apertou o alicate com a maior força que conseguiu e ouviu um cleck, então quando viram um dos arames da cerca estava partido. – Agora a gente vai poder brincar do mesmo lado, Zinho!

Os dois ficaram muito animados e iam revezando o alicate quando um dos dois se cansava. Cortaram fios e mais fios e quando conseguiram fazer uma abertura decidiram que já era o suficiente para que conseguissem passar.

Naquele dia Zinho e Lucas brincaram como nunca. Esconde-esconde, pega-pega, pula carniça e até improvisaram um jogo de bolinhas de gude com alguns olhos.

No dia seguinte foi a vez de Zinho passar para o outro lado da cerca. Zinho levou Putty que correu alegremente pelo campo. Os dois estavam se tornando grandes amigos.

Um dia Zinho convidou Lucas para ir até sua casa. Os dois foram e Zinho mostrou tudo a Lucas, ofereceu alguma coisa para comer, mas Lucas não pareceu muito animado, então os dois saíram para brincar novamente.

Alguns meses se passaram com essa rotina dos dois. Zinho sabia que mamãe não tinha com o que se preocupar, ela tinha muitas minhocas na cabeça e junto algumas super preocupações.

Um dia desses Zinho estava em sua casa, mamãe Mortinho da Silva saiu e Zinho aguardou um pouco para sair, como de costume. No entanto naquele dia ouviu uma batida na porta. Era Lucas.

Zinho achou estranho o amigo aparecer assim em sua casa. Lucas parecia muito animado. Então ele disse que contara ao seu pai sobre Zinho e a comunidade e que o pai gostaria de conhecer Zinho.

Zinho ficou um pouco preocupado, mas Lucas era o seu melhor amigo e não colocaria Zinho em perigo. Os dois saíram para brincar, era a vez de Zinho passar para o outro lado da cerca. Foram correndo pelos campos, brincaram até não poder mais. Ficaram com fome e Lucas subiu numa árvore para pegar uma maçã, enquanto Zinho caçava algum animal morto pelo caminho.

Já estava ficando bem tarde e Zinho achou melhor voltarem logo.

Chegando próximo a cerca, algo estava diferente, o pequeno buraco que Zinho e Lucas tinham feito estava muito maior.

Zinho foi correndo em direção a cerca e ficou olhando espantado e sem entender o que estava acontecendo. Ao passar pela comunidade, que por sinal, estava muito quieta, foi pra casa. No caminho passou por muitos membros largados e alguns humanos, coisa que era normal até, mas aquele silêncio.

Zinho então entrou pela porta da frente e pôde jurar que morreria se já não estivesse morto. Na casa encontrou mamãe e Putty em pedaços, espalhados por todos os cantos da casa.

Começou a chorar de preocupação e então ouviu:

- Zinho... Zinho... – Zinho correu em direção a cabeça da mãe que estava num cantinho escuro. Sua voz era apenas um sussurro. – Zinho, você me desobedeceu. Eu disse a você que ficasse em casa e você me desobedeceu. Agora olha o que eles fizeram comigo. Eu que sempre fiz das tripas coração e você não me ouviu Zinho.

Enquanto Lucas e Zinho brincavam nos campos, o pai de Lucas junto com a sua equipe encontraram a comunidade que Lucas descreveu para o pai e acabaram com todos. O que Zinho jamais imaginou é que Lucas vivia numa comunidade de caçadores de zumbis, cujo o pai de Lucas era o líder.

Zinho largou a cabeça da mãe e chorou até não poder mais.






Moral da história: Ouça os seus pais e nunca os desobedeça.

Comentários

  1. SENSACIONAL, ADOREI..... RI, TIVE DE LEVE UMA DORZINHA DE ANGUSTIA MAS PASSOU, RI DE NOVO, INCRÍVEL FIQUEI IMAGINANDO O LUGAR E TUDO, SEU HUMOR É FANTÁSTICO.
    E, A SACADA DA MORAL DA HISTÓRIA. =D

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  2. Que incrível história!!! Adorei a maneira como é contada :D

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